sábado, 14 de agosto de 2010

6 meses

Seis meses foi o tempo que ela passou aqui comigo, dormindo todos os dias sobre meus ombros, escutandos minhas antigas cantigas de ninar, as que me cantava minha mãe em dias de fortes tormentas quando a noite ainda era meu maior medo. Nunca antes na minha vida 6 meses me pareceram tão curtos, na verdade tudo foi uma grande contradição... eu sentia o tempo parar toda vez que eu olhava dentro dos seus olhos, parava toda vez que eu admirava toda a simplicidade do seu sorriso, eu juro, eu senti o tempo parar, mas não parou porque agora acabou os olhos e o sorriso.

Estive perdida dentro do meu conto de fadas preferido, nunca antes eu tinha conseguido encontrar a entrada do labirinto. Sempre estive a margem, estive vivendo no que chamam de mundo real desejando me perder, percorrer caminhos no seu estreito abraço, caminhar na escuridão dos olhos fechados durante seu longo beijo. Desejo já voltar a entrar e procurar nosso castelo no centro desses corredores temidos pelos outros. E o que há de ser a partir de agora? Como resposta só tenho a ação de seguir empurrando a vida com a barriga até que uma de nós atravesse essa infinita água que em ondas vem gelar meu pé descalso na areia.
Agora que ela se foi é preciso que meu coração contraido, apertado de dor e de saudade que prende lágrimas ainda não derramadas na sua totalidade, se acostume outra vez a rotina sozinha e monótona de deitar na metade de uma cama sabendo que a outra metade não vai se preencher ainda que eu sonhe, ainda que eu imagine, seguirá vazia até a hora de despertar. Agora que o mundo voltou a tomar seu tamanho natural e que a casa perdeu o brilho que tinha vou ter que seguir, ainda que segurando nas bordas e nas paredes respirando esse escasso ar que me falta.
Não há música que não me lembre seu dançar torto que dançavamos em frente a pequena e velha televisão que já não mostra suas cores, não há música que não me lembre nossas danças a luz da lua que invadia a janela sem cortinas. Não há nada que não me faça lembrar qualquer característica sua. Ela se foi, mas continua aqui em todos os lugares que estou. Será possível, que uma vez que eu tenha me perdido em seus braços, eu me perca por não os ter mais? Afirmo e defendo ferozmente que o que eu sinto é infelicidade, mas ela insiste em dizer que é só saudade, mas eu sei que a saudade só cobre a falta de sorrisos dentro de mim, e com a infelicidade escondida posso seguir em frente mesmo sem conseguir erguer a cabeça. E a nossa música que cantávamos juntas já não é mais a mesma quando em uma tentativa frustrada de cantar minha voz rouca me engasgo com minha própria solidão.
O espaço geográfico que habito está apertado, não aguenta mais o meu chorar. Na verdade nem eu suporto mais essas lágrimas que escorrem frias no meu rosto gelado. Ela foi embora e dentro de suas malas escondeu metade de mim, levou o que sustenta as bases fracas da minha construção. E eu só queria que ela me levasse inteira com cada pedaço meu que agora desmorona dentro do meu corpo inexpressivo e invisível.



Sinto que aos poucos vou caindo, meus olhos se fechando, to precisando dormir e sonhar que os passados 6 meses não passaram.

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